Palmilhas Desportivas
Palmilhas Desportivas
Citando Oliveira (2013), uma palmilha é qualquer material colocado entre a sola do sapato e o pé e que realiza alguma influência nas forças de pressão que atuem no membro. As palmilhas ortopédicas são um tipo de ortótese plantar utilizado para realinhar o esqueleto, reduzir choques, fricções e aliviar as áreas que sofrem com pressões excessivas. E, para além disso, ajudam também na uniformização do centro gravitacional do corpo e corrigem o balanceamento do pé na forma estática e dinâmica (Pauk et al. 2015).
A nível desportivo, há uma vasta gama de ortóteses plantares cujas características vão de encontro às necessidades do desportista de forma a colmatar alguns desvios, algumas pressões causadas ou evidenciadas durante a prática desportiva. Por exemplo, existem palmilhas desportivas específicas para corredores, palmilhas desportivas para desporto ao ar livre, entre outros tipos de atividades.
Palmilhas Pré-fabricadas vs Personalizadas
As palmilhas podem ser personalizadas ou pré-fabricadas. Sendo as pré-fabricadas produzidas em grande escala e seguindo um padrão e as personalizadas adaptadas para um determinado indivíduo.
Palmilhas Pré-fabricadas
Estas palmilhas são limitadas a nível de tamanho e de configuração, o que nem sempre possibilita uma correção biomecânica eficiente. No entanto, este tipo de palmilhas tem um baixo custo quando comparadas com as palmilhas personalizadas.
As palmilhas pré-fabricadas não possuem certos requisitos que são observados nas palmilhas personalizadas. Por norma, possuem o arco longitudinal interno muito baixo e com um material muito macio. Podendo desta forma não suportar e não dar resistência suficiente às articulações. Tendo por base Majumdar et al. (2013), outra situação muito recorrente nestas palmilhas é a falta de suporte do calcanhar na palmilha que pode por em causa a estabilidade do calcanhar e a diminuição do impacto do calcanhar quando entra em contacto com o solo.
Palmilhas Personalizadas
As palmilhas personalizadas apresentam o tamanho e o contorno adequado, aproximando-se da morfologia da superfície plantar. Desta forma, possuem o suporte de calcanhar adequado (baixo, elevado, almofadado) e o arco da palmilha adequado ao utilizador (Menz 2009).
A produção de palmilhas personalizadas tem uma maior liberdade quer no design, quer na funcionalidade, quer no conforto. Ter um formato ideal para cada tipo de pé é sem dúvida um fator primordial para proporcionar um maior conforto às pessoas (Salles and Gyi 2012a).
Em concordância com Oliveira (2013), as palmilhas personalizadas são capazes de manter por mais tempo o seu efeito em relação às pré-fabricadas, ajudam o indivíduo a andar mais rápido, com maior estabilidade e, consequentemente, com menor gasto de energia.
Os problemas relacionados com os pés devem ser contornados através de palmilhas feitas por medida, para que aja uma redistribuição plantar adequada. A utilização deste tipo de palmilhas permite a redistribuição de pressões das áreas mais dolorosas e, desta forma, a intensidade das dores diminui e consegue melhorar-se a qualidade de vida do utilizador. (Tenten-Diepenmaat et al. 2016)
Tipos de palmilhas
As órteses podem ser classificadas de várias maneiras e uma delas é de acordo com a rigidez e isto depende dos materiais em que são confecionadas. Neste caso, as palmilhas são denominadas de macias, semirrígidas e rígidas (Lockard 1988):
a) Palmilhas macias
As palmilhas macias são normalmente usadas para amortecer o choque, amortecer o impacto em pessoas com limitações nas articulações, diminuir a fricção e as pressões nos tecidos plantares (Hicks et al. 1989). São feitas com materiais macios ou de baixa dureza, precisam ter no mínimo 3 mm de espessura e geralmente são moldadas a frio, o que equivale a pouco tempo de vida por não poderem ser remodeladas para não perderem a eficácia (Lockard 1988).
O uso de palmilhas macias por idosos pode aumentar a probabilidade de quedas, pois com seu uso é necessária uma maior atividade muscular para manter a estabilidade (Iglesias, Vallejo and Peña 2012). Pois estas palmilhas mais macias diminuem o feedback somatossensorial e não aumentam a estabilidade postural (Qu 2015).
Indivíduos com pé plano têm maior tendência a sofrer uma eversão do retropé por falta do arco longitudinal o que leva a uma incapacidade de absorver o choque e isto proporciona lesões nas costas e nos pés. As palmilhas para este tipo de problemas são as palmilhas mais suaves (Salles and Gyi 2012a).
b) Palmilhas semirrígidas
As palmilhas semirrígidas oferecem alguma suavidade, porém são mais utilizadas para alinhar os pés que estão desalinhados, para trazer alívio às áreas plantares que estão sujeitas a sofrer com maiores pressões e equilibrar o pé numa posição neutra (Saleh 2013). As palmilhas semirrígidas são fabricadas com materiais termoplásticos de baixa temperatura, numa combinação de palmilha macia com palmilha rígida. Estas palmilhas por serem moldadas têm um tempo de vida maior do que as palmilhas macias. As palmilhas desportivas geralmente são de material semirrígido, pois permitem flexibilidade e absorção ao choque, ao mesmo tempo que alinham e apoiam o pé desalinhado, o que é desejável para o alto impacto (Lockard 1988).
No desposto uma palmilha macia não proverá apoio suficiente e uma palmilha rígida não suavizará o impacto ao atleta (Crabtree et al. 2009).
c) Palmilhas rígidas
As palmilhas rígidas controlam os movimentos das pernas e dos pés, causados pelo mau alinhamento das articulações, e proporcionam estabilidade articular. Devem ser usadas concomitantemente com calçados que ofereçam algum amortecimento durante o impacto, pois as palmilhas rígidas não oferecem absorção de impactos. São usadas geralmente para caminhar e principalmente para uma correção elevada, raramente para desporto (Lockard 1988), pois estabilizam o retropé e reduzem os movimentos excessivos na marcha (Yick and Tse 2013). O uso das palmilhas rígidas fornece suporte para o arco e o calcanhar, conseguem um máximo controlo do movimento, uma alta correção biomecânica e limitam a pronação anormal causada por deformidades do pé (Yick and Tse 2013). Os indivíduos com o pé cavo, os quais possuem o arco longitudinal mais rígido e com inversão no retropé, que geram cargas excessivas nas laterais e com pressões mais elevadas nas regiões onde o pé encosta no solo, tem as palmilhas rígidas como sendo as ideais (Salles and Gyi 2012a).
Em jeito de curiosidade, o objetivo de um estudo de Qu (2015) foi verificar os efeitos de palmilhas na estabilidade postural de idosos. Selecionando uma palmilha texturizada, uma rígida, uma palmilha com formato de concha no calcanhar e uma macia. A palmilha com a lateral do calcanhar mais alta promoveu maior estabilidade aos usuários na direção antero-posterior, pois melhora o feedback somatossensorial. No mesmo trabalho, (Qu 2015) conclui-se que as palmilhas texturizadas não surtem um efeito real na estabilidade visível e as palmilhas rígidas provaram ter maior controlo na estabilidade do que as macias, pois com o uso destas é necessário ter uma maior atividade muscular no caminhar para poder neutralizar a postura. As rígidas proporcionam um maior apoio mecânico em momentos de desníveis e assim mantêm a estabilidade durante a marcha por preservarem o pé numa posição mais neutra e por isto mais estável. Ocorre que as palmilhas macias tendem a acomodar mais o pé, aumentando a instabilidade e podem reduzir as sensações cutâneas geradas na sola do pé, gerando alívio de dores.
Na investigação de (Iglesias, Vallejo and Peña 2012) foram realizados testes, de olhos abertos e fechados, para avaliar o controlo postural de idosos saudáveis usando palmilhas macias e rígidas em comparação com o pé descalço. Os testes confirmaram uma menor variação do centro de massa corporal quando usadas as palmilhas, pois aumentam o contato plantar da superfície do pé. Porém, eles sugerem o uso de palmilhas rígidas para uma maior estabilidade postural, sendo elas uma estratégia para o risco de quedas, isto porque uma palmilha macia acomoda a postura do pé e a rígida é mais corretiva.
Exemplos de materiais
As palmilhas são confecionadas em diversos materiais: naturais, poliméricos, couro, silicone etc, e por isso possuem uma ampla gama de dureza e densidades (Pauk et al. 2015). O material escolhido para executar as palmilhas de responder a diferentes parâmetros: temperatura, elasticidade, dureza, densidade, durabilidade, flexibilidade, resiliência, compressibilidade e, principalmente, conforto. Um exemplo da importância da relação entre densidade, conforto e dureza, é que quanto maior a densidade do material, maior será a dureza e menor o amortecimento nos momentos de impacto (Crabtree et al. 2009). E é importante garantir que o material da palmilha apresente uma grande influência no atrito do pé (Pauk et al. 2015). Por questões de higiene, o material precisa ter uma baixa penetração de água para que não haja proliferação de bactérias, produção de odores, assim como a quantidade de lavagem não deve interferir na qualidade e função do material (Majumdar et al. 2013).
Para a escolha do material também deve ter-se em conta a necessidade de apoio/correção plantar, pois cada material possui diferentes características de flexibilidade e elasticidade (Oliveira 2013), um exemplo da necessidade da compensação é considerar que para controlar o movimento do pé as palmilhas precisam ser rígidas na compressão (Salles and Gyi 2012a).
No que respeita à dureza do materiais, é importante referir que um material firme não dissipa pressão e que é usado para alívio da dor e para aumento de equilíbrio. Já materiais macios são usados para amortecimento. O Shore é a unidade de grandeza da dureza da borracha, dos polímeros, entre outros materiais (Lockard 1988).
As espumas podem ser divididas em espumas com células abertas e fechadas. Nos materiais com células fechadas, cada célula é independente e nos materiais com células abertas, estas células ligam-se entre si e movem-se horizontal e verticalmente umas sobre as outras, estes movimentos diminuem as forças de cisalhamento (Lockard 1988).
a) Materiais naturais
Os materiais naturais mais usados são o couro e a cortiça, pois têm alta disponibilidade, baixo custo e são leves. O couro de vaca é bastante resistente ao desgaste, protege a pele de irritação e é higiénico, pois é resistente ao suor e apresenta permeabilidade em água e ao desgaste. Quando se usa o couro curtido aumenta-se ainda mais a aderência e a resistência ao desgaste (Pauk et al. 2015). A cortiça tem um bom amortecimento e é leve (Yick and Tse 2013). O latex é um material natural, porém será explicado abaixo por ser usado como uma espuma de borracha.
b) Espuma de borracha
As palmilhas feitas com borracha podem ser naturais (látex) ou sintéticas (neoprene). Estas palmilhas oferecem um leve amortecimento ao choque e alívio de pressão.
- O látex é um material macio, contudo possui propensão a uma rápida deformação. O neoprene é uma borracha feita de policloropreno.
- Como pode reduzir as forças de cisalhamento, o neoprene tem vindo a ser usado para forrar palmilhas desportivas (Yick and Tse 2013).
- Por exemplo, a pronação crónica provoca o alongamento dos ligamentos e pode gerar calosidades plantares. Este problema pode ser corrigido com palmilhas forradas com neopreno de forma a aliviar a pressão sobre o ante-pé (Hicks et al. 1989).
- Num estudo realizado por Burns et al. (2006) foram testadas palmilhas apenas com látex com espessura de 3 mm, os autores consideram o latex como um material limitado em redução da absorção ao choque, porém a palmilha reduziu a carga de pressão em 9%.
c) Polímeros
Os polímeros estão disponíveis numa vasta escala de dureza, flexibilidade, densidade e propriedades mecânicas. As espumas de polímeros estão a ser muito utilizadas na produção de palmilhas, pois moldam-se ao pé e consequentemente geram proteção e apoio (Hu and Lu 2014). Os polímeros podem ser termoplásticos, termorrígidos e elastómeros.
Os materiais termoplásticos tornam-se moldáveis quando aquecidos e rígidos quando arrefecem. Os principais polímeros termoplásticos sintéticos usados na fabricação das palmilhas são: etileno acetado de vinila (EVA), que é o mais conhecido, o polipropileno (PP), polietileno (PE), poliamida (PA) e o poliuretano (PU) (Yick and Tse 2013).
O EVA é um copolímero formado pela copolimerização do etileno com moléculas de acetato de vinilo. As palmilhas produzidas com EVA, uma espuma sintética, apresentam boa viscosidade, resistência e flexibilidade em baixas temperaturas e podem ter várias densidades (Dhokia et al. 2010; Pauk et al. 2015). Um ponto muito positivo do EVA é ser impermeável aos líquidos do corpo, ou seja, a transpiração, tornando-o um material muito higiénico. São muitas vezes utilizados nas palmilhas para minimizar o impacto entre a superfície que está em contato com o solo e o pé, mas principalmente é colocado no topo da palmilha. As espumas podem ser produzidas em várias densidades, baixa, média e alta. EVA de baixa densidade promove conforto por ser macio. Já o EVA de alta densidade é usado quando é necessário apoio de deformidade do pé (Dhokia et al. 2010; Yick and Tse 2013).
Num estudo de Mccormick, Bonanno and Landorf (2013) as órteses simuladas em EVA planas e com contorno no calcanhar proporcionaram reduções significativas na pressão máxima, o que, para os autores, pode ter alguma eficácia nas dores do calcanhar e fascite plantar.
O PE é um material leve, flexível e de variáveis densidades (Saleh 2013). Este polímero é utilizado na confecção de palmilhas e, dependendo da dureza, pode ser utilizado como base semirrígida, como base para absorção de choque e/ou base para moldar palmilhas rígidas e semirrígidas (Yick and Tse 2013);
- Existem dois tipos de polímeros de PU, um tipo é viscoelástico (elastómero) e o outro uma espuma. O PU com espuma de células aberta, consequentemente tem ótima tendência a amortecer as cargas e diminuir as forças de cisalhamento (Crabtree et al. 2009), como as células são abertas possibilita-se a respirabilidade e o conforto térmico. O outro tipo é o elastomero PU com propriedades viscoelásticas, usado para reduzir vibrações, as palmilhas feitas com este PU absorvem e dissipam as energias geradas pelo choque do solo no calcanhar e protegem as articulações. Segundo (Yick and Tse 2013) as palmilhas feitas com materiais viscoelásticos são macias e atuam como amortecedores e distribuidor de cargas.
A PA, ou nylon, demonstrou, em (Xiong and Zhao 2013) e (Salles and Gyi 2012a), ter uma boa durabilidade. No trabalho de Salles and Gyi (2012) as 6 palmilhas produzidas PA demostraram durabilidade e um índice de desconforto baixo;
- As palmilhas produzidas por PP, material termoplástico e rígido, podem ser usadas para modelos rígidos e semirrígidos, pois o controlo da rigidez será dado pela espessura da palmilha (Crabtree et al. 2009).
- O elastómero de silicone está disponível em várias fórmulas, qualidades e propriedades de compressão. São facilmente moldados e são geralmente usados como almofadas para colocar sobre a palmilha na região do calcanhar e dos dedos, pois absorvem as forças de reação ao solo (Yick and Tse 2013).
d) Composto de carbono
As fibras de carbono oferecem uma palmilha leve e compacta, muito relevante para o desporto (Crabtree et al. 2009). São usados para produzir conchas de órteses fortes, finas e leves,e o número de camadas de carbono irá influenciar na resistência (Saleh 2013)
Em suma, uma leve irregularidade nos nossos pés, a base do corpo humano, pode ocasionar várias disfunções no corpo humano como um todo. Desse modo, a indicação do uso de palmilhas personalizadas vem a ser um recurso válido a fim de melhorar a postura, aumentar o controlo do corpo e aliviar dores quer na região lombar e quer em todas as outras partes do corpo que podem ser afetadas.
Existem diversas formas de produzir palmilhas personalizadas e um grande leque de opção e configurações.
Se necessita ou procura mais informações sobre palmilhas, sejam elas para a prática desportiva ou para utilizar no dia-a-dia, não hesite em aconselhar-se junto dos nossos técnicos.
Palmilhas Desportivas
Não foram encontrados comentários.